
O Antigo Testamento na Igreja
Além do seu status de Escritura Sagrada, o AT é uma obra literária das mais interessantes e valiosas por si só, um objeto digno de estudos intensos e constantes. Parte do seu conteúdo (especialmente as histórias) é do mais elevado nível literário, e muito desse conteúdo ainda gera reações de apreciação espiritual no leitor e proporciona-lhe um meio de expressar as aspirações mais profundas da sua própria alma (como os salmos por exemplo). Tudo isso vale tanto para leitores cristãos quanto para os outros, mas os cristãos têm de considerar ainda o seu status como parte das Escrituras Sagradas da Igreja Cristã. O AT é reconhecido tradicionalmente como o texto sagrado que registra os estágios iniciais do processo contínuo de revelação divina e resposta humana, que teve seu cumprimento em Cristo, sendo o NT o registro desse cumprimento. Quando nosso Senhor afirma que "são as Escrituras que testemunham a meu respeito", (Jo 5:39), ele está se referindo às Escrituras do AT. Quando é dito a Timóteo que "toda Escritura é inspirada por Deus", a referência é aqueles escritos sagrados com que Timóteo estava familiarizado desde a infância - ou seja, os escritos do AT (a propósito, na famosa versão grega conhecida como Septuaginta). Timóteo é lembrado que esses são os escritos "que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus" e que proporcionam uma instrução abrangente e completa "para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra" (2 Tm 3:15-17). Era do AT que os primeiros pregadores cristãos, seguindo o exemplo do seu Mestre, extraíam seus textos. E o faziam de maneira formal e expressa quando se dirigiam a audiências judaicas e de maneira implícita quando pregavam aos gentios (não-judeus). Em outras palavras, não podemos neglicenciar o fato de que nas primeiras gerações da sua existência a unica Bíblia da igreja cristã era o AT, e ela se deu muito bem tendo somente o AT. No entanto, vale lembrar que, quando falamos desse status singular do AT na igreja primitiva, estamos falando do AT interpretado e cumprido por Jesus. Essa interpretação pode ser resumida na afirmação que Cristo e o evangelho são o tema do AT. "Todos os profetas dão testemunho dele (Jesus), de que todo o que nele crê recebe o perdão dos pecados por meio do seu nome" (At 10:43). Os profetas até "investigaram e examinaram cuidadosamente as Escrituras procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava o Espírito de Cristo que neles estava" (1 Pe 1:10,11). Essa compreensão do AT permeia de forma tão ampla e completa os escritos do NT que ela certamente vai além desses escritos até o próprio Jesus, e este é, de fato, o testemunho dos Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Ele parabenizou seus discípulos porque eles viviam numa época em que podiam experimentar coisas que profetas e homens justos de outros tempos tinham, em vão, desejado ver e ouvir (Mt 13:15,16 / Lc 10:23,24). Seguro disso, ele submeteu-se a seus captores com as palavras: "Mas as Escrituras precisam ser cumpridas" (Mc 14:49). Hoje em dia a tendência é valorizar mais o NT do que o AT. Entretanto, o conhecimento do AT é necessário para a compreensão exata do NT. Além disso, o NT está de tal modo repleto de citações do AT que o conhecimento deste é essencial e indispensável para todo cristão. Os autores do NT consideravam que o conteúdo da sua mensagem estava organicamente de acordo com a mensagem do AT, a ponto de o AT e o NT poderem ser considerados duas partes de uma mesma sentença, cada parte sendo essencial para a compreensão do todo. Enfim, o NT é o complemento e aperfeiçoamento do AT e não uma Bíblia à parte. Procuremos, pois, por Jesus Cristo em nossa leitura e meditação do AT. Amém!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário